sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Vamos Falar de Bosta?

 



BOSTA! Não tenho palavra melhor pra descrever este dejeto do cinema nacional. BOSTA!
Eu fico pensando nas explicações possíveis para que este filme tenha sido feito desta forma. Algumas alternativas me vêm à cabeça:
1 - O roteirista nunca ouviu a música, mas alguém com severo retardo mental contou a estorinha da música pra ele. Ele disse "Legal! Isso dá um filme!", então fumou TODOS os baseados do planeta e foi escrever.
2 - O roteirista, os produtores e o diretor odeiam profundamente a Legião Urbana.
3 - É gozação.


Sério, o roteiro estava pronto! O Renato Russo se certificou disso! Era só ler, entender, escrever meia dúzia de falas pra alinhar a porra toda e fim!
Mas certamente, o roteirista não leu, não entendeu e resolveu escrever o que desse na telha e foda-se...

Eu demorei 7 anos pra assistir a esse filme, por medo do que poderia vir a ser. E eu estava certo!

A música "Faroeste Caboclo" é uma ALEGORIA sobre um cara chamado João do Santo Cristo, que foi uma criança demoníaca, um adolescente perverso e um adulto facínora. O cara era tão ruim, criatura tão maléfica, que volta à vida no fim da estória, trazendo o próprio DIABO consigo pra falar com o presidente!

Já essa merda de filme conta a estória REALISTA de um babaca escravoceta. Um idiota sem eira nem beira que sai no tiro com um moleque mimado criado no leite com pêra por causa de uma vadiazinha maconheira qualquer... (Mas já vamos falar desses outros dois personagens, aguenta aí.)

Na música, as desgraças da vida de João são apresentadas em camadas. A morte do pai, o reformatório, “ir para o inferno” (cadeia) duas vezes, o senhor de alta classe, Jeremias. E isso tem propósito: te faz ver as escolhas de João do Santo Cristo, os caminhos que ele percorre até chegar à própria morte. E você entende que o responsável pela própria morte é ele mesmo. Não é um coitadinho, vítima da sociedade.

No filme, todos os personagens são inseridos de uma vez só, mostrando que ele é apenas um menino emburrado que a vida “empurra” em direção ao destino inevitável. Uma vítima das circunstâncias, quase que um “mentalmente incapaz.”

Maria Lúcia:

Ah! A Maria Lúcia... Na música, um anjo. A visão da inocência, da ingenuidade. Ela é maculada por João do Santo Cristo ao mesmo tempo que este é purificado por ela. Ela casa com Jeremias seduzida, sem saber o que ele é. E no fim, ela é a salvadora de João e morre ao seu lado.
No filme, uma maconheirazinha escrota que aparece logo de cara na festa do traficante Jeremias, vadiazinha filha de senador, chiliquenta, que motiva o vaivém e as crises do escravoceta Santo Cristo. Corrupta ao ponto de fazer acordo e casar com o traficante Jeremias pra salvar o seu “amor”.

Jeremias:

Na música, o cara é um traficante de renome, um puta dum comelão, passa a rôla em todas as virgens que conhece, um galanteador, xavequeiro. O cara é macho alfa, ninguém pode com ele. Ele é o último a aparecer na música por um motivo: João tem que cair. E ninguém pode com João em Brasília! Nem “genereal de dez estrelas que fica atrás da mesa com o cú na mão”.
Então Jeremias é contatado pelo “senhor de alta classe” que faz a “proposta indecorosa” a João e é imediatamente rechaçado pelo “Peixes com ascendente em escorpião” e promete: “você perdeu a sua vida, meu irmão”.
Jeremias, esse gigante malvadão chega pra acabar com a alegoria. O cara é tão do mal que casa com Maria Lúcia e atira no próprio filho do Diabo pelas costas. E termina morto, porque João é movido pela força do ódio e senta o dedo em sua última ação antes de morrer.

No filme, um boyzinho mimado, cheirador chiliquento, já aparece no início da estória, ao lado da maconheirazinha chiliquenta. A motivação de Jeremias é apenas uma: rejeição escravoceta. É um cara que NÃO CONSEGUE UMA BOCETA, não tem virilidade nem pra carregar uma pilha palito. Só consegue engravidar aquela VAGABUNDA na base da extorsão.

Além de tudo isso, ainda faltaram diversos de elementos:

- cenas da infância de João roubando a igreja e comendo todas as menininhas da cidade, mostrando que ele é o próprio Cão;
- juntando dinheiro e indo a Salvador, depois do reformatório;
- conhecendo o boiadeiro e aceitando a passagem a Brasília;
- indo no puteiro gastar todo o seu dinheiro;
- conhecendo Pablo no puteiro (e não chegando na cidade já sabendo que tem primo, caralho!!!);
- passando fome porque o salário vai todo no puteiro e decidindo começar a plantar maconha por causa disso;
- João virando o maior traficante de Brasília, acabando com toda a concorrência;
- Cometendo roubo com “os boyzinhos da cidade” e indo pro “inferno” (cadeia) pela primeira vez, onde é estuprado;
- virando o “rei do crime” na cidade, matando os boyzinhos e todo mundo que se colocar no caminho dele;
- SÓ AQUI ELE CONHECE A MARIA LÚCIA!!!
- a “proposta indecorosa” do “senhor de alta classe com dinheiro na mão” e a treta que leva ao “você perdeu a sua vida, meu irmão”
- A bebedeira, “descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar”;
- Fala com Pablo que quer se armar, Pablo entrega a Winchester .22 (SOMENTE AQUI A ARMA APARECE!!!)
- Santo cristo fora da cidade por um longo período, fugitivo da polícia;
- A chegada de Jeremias; 
- Jeremias sendo fodão e tomando a cidade, conquistando Maria Lúcia e casando;
- Santo Cristo volta, vê tudo o que perdeu e convoca o duelo na frente de todo mundo. Jura vingança contra Maria Lúcia também;
- Vê no noticiário da TV sobre o duelo;
- O circo todo armado, com platéia, câmeras de TV. Vendedores de pipoca e algodão doce, etc...
- O tiro pelas costas;
- “olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir e olhou pro sorveteiro e pras câmeras e a gente da TV que filmava tudo ali”
- Os flashbacks (infância, etc...);
- Jeremias tira os olhos de João e comemora com o público;
- “E nisso o sol cegou seus olhos e então Maria Lúcia ele reconheceu, ela trazia a Winchester .22, a arma que seu primo Pablo lhe deu”
- “Jeremias eu sou homem, coisa que você não é e não atiro pelas costas, não. Olha pra cá filha da puta sem-vergonha, dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o meu perdão!”, 5 tiros em Jeremias, antes que ele possa atirar em Maria Lúcia;
- João morre nos braços de Maria Lúcia. Resta uma bala na Winchester .22. Ela se mata, morre “ao lado de João, seu protetor”;
- Cenas de noticiários falando que “João era santo porque sabia morrer” e olhares descrentes em salas de estar da “alta burguesia”;
- João e o Diabo sendo rejeitados no Palácio do Planalto, não conseguindo falar com o Presidente.

Sem esses elementos, toda a alegoria vai embora. Toda a magia dessa estória acaba. Vira só um tiroteio por causa de boceta.
Seria o mesmo que transformar o "Auto da Compadecida" em um filme sobre uma situação de reféns em uma igreja.

Não é muito difícil entender, NÉ?
Tomanocu...

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